A alimentação é um dos itens que mais onera os sistemas de produção de leite, chegando representar até 60% do custo total. Sendo assim, a eficiência econômica na propriedade leiteira depende do planejamento alimentar do rebanho que consiste principalmente na gestão eficiente da compra de ingredientes. Devido às oscilações ambientais e a variação e/ou preços elevados dos alimentos convencionais, como o milho e a soja, a busca de alimentos alternativos para aumentar a eficiência econômica tornou-se uma necessidade para o produtor rural. Os ruminantes possuem a capacidade de aproveitar de forma eficiente os resíduos da agroindústria, contribuindo assim para diminuir os impactos ambientais causados pelo acúmulo desses produtos no meio ambiente que podem contaminar o solo e a água. O resíduo úmido de cervejaria ou bagaço de cevada, que é um resíduo obtido pelo processo de fabricação de cerveja, é uma alternativa que vem sendo comumente utilizada na dieta de bovinos para produção de leite e corte. O resíduo úmido de cervejaria (RUC) apresenta alto potencial para a inclusão em dietas de ruminantes além de ter grandes qualidades nutricionais. Por ser um produto com alta umidade, em torno de 75%, deve ser levada em consideração a distância da propriedade à fábrica de cerveja, sendo os grandes beneficiados, os produtores que possuem uma fábrica na sua região. O bagaço de cevada pode ser classificado como volumoso quando se destaca o teor de fibra bruta e como concentrado quando se leva em consideração o seu valor energético. Considerando essas características nutricionais, pode ser utilizado substituindo parte da fração volumosa de baixa qualidade, elevando a densidade de nutrientes da dieta assim como, podendo substituir parte das fontes de proteína da dieta. A composição química do resíduo é variável em função da matéria prima utilizada e do processo utilizado pela indústria de cerveja. A composição média do RUC está em torno de: 25% de matéria seca (MS), 48% de fibra em detergente neutro (FDN), 27% de proteína bruta (PB), 70% de nutrientes digestíveis totais (NDT), 0,98% de cálcio (Ca) e 1,35% de fósforo (P). Essas características nutricionais permitem que a inclusão do RUC na dieta de vacas leiteiras possa elevar em até 30% a produção de leite e em até 25% o ganho de peso de animais em regime de engorda, obtendo uma redução média de custos de até 15% na alimentação dos animais. Portanto, a sua inclusão de forma correta na dieta dos animais se torna uma ferramenta eficiente, pois pode aumentar o volume de produção e reduzir os custos com a alimentação. A qualidade da proteína presente no resíduo é outro fator importante para a produção de leite, sendo que os aminoácidos limitantes para a produção de leite são a metionina e lisina. O resíduo apresenta uma grande quantidade de metionina, tornando-o um bom complemento ao farelo de soja, que é pobre em metionina. Grande parte da fração de proteína bruta do RUC é de proteína não degradável no rúmen (PNDR), em torno de 64%, sendo superior à média dos 40% encontrado no farelo de soja. Assim, a proteína de alto valor vai passar direto sem sofrer degradação ruminal em compostos mais simples, o que reduziria seu valor nutricional. O resíduo de cervejaria apresenta em sua composição mineral baixos valores de sódio e potássio, fator que deve ser levado em consideração quando utilizado em substituição ao farelo de soja, podendo ser necessária a suplementação desses minerais. Por outro lado, apresenta alto teor de selênio e aparentemente mais disponível ao ser comparado a uma fonte inorgânica. A suplementação de selênio e vitamina E, pode favorecer o sistema imune de vacas leiteiras contribuindo para a redução da incidência de problemas reprodutivos e mastite. Além da qualidade da proteína, a utilização do resíduo na alimentação de vacas leiteiras apresenta outros benefícios como: manutenção das funções ruminais através do seu poder tampão sobre o pH; alta palatabilidade, que permite um alto nível ingestão diária de alimentos; aumento da produção de leite, através da melhora na conversão alimentar e saúde do rebanho; o baixo custo em relação aos demais ingredientes usuais utilizados nas rações; permite o armazenamento na propriedade através da ensilagem, garantindo o seu uso por um maior período de tempo, ou ainda através da utilização de uma caixa de geomembrana, geralmente disponibilizada pelas empresas que comercializam o resíduo. O uso do RUC é uma excelente opção para reduzir os custos com alimentação, entretanto, o ideal é que se faça uma análise química do produto para garantir que a dieta esteja balanceada para que as exigências dos animais sejam atendidas.
DUARTE, Douglas Vinícius Lage. Resíduo de cervejaria para vacas leiteiras. Cooperando, Sete Lagoas, volume 598, p. 6, 15/10/2019.